Aqui é Galo, é Galo, é Galo, é Galo' (Fred Melo Paiva)

Caro leitor, estamos às portas de uma decisão, mas eu não me aguento – preciso fazer um aparte sobre a selecinha.

Felipão repete com Ronaldinho a fórmula que usou com Romário: ao preteri-lo em 2002, cada um dos convocados se sentiu agradecido por estar ocupando uma vaga que poderia ser a do Baixinho mais genial da história. Desse sentimento brotou a Família Scolari, carola e comportadinha. E bilhões de amantes do futebol ficaram privados de ver a última Copa de Romário. Um crime de lesa-pátria, embora muitos tenham se contentado com o título e a x*** que Ronaldo Fenômeno esculpiu na cabeça para o jogo final contra a Alemanha.

Felipão é um técnico medíocre, ultrapassado como todos aqueles cuja virtude exclusiva é ser um incentivador de vestiário. No Palmeiras, trocou Pierre por Daniel Carvalho e realizou um grande desejo ao contratar Ricardo Bueno – embora o sonho mesmo fosse Neto Berola. Uma piada. Levou otime à Segundona e, chutando a meritocracia para o mato, como zagueiro tosco que foi, voltou ao comando da selecinha. É como se você perdesse o emprego por ter falido o Mate Couro e fosse imediatamente alçado à presidência da Coca-Cola. Só aqui mesmo.

Da minha parte não tô nem aí, porque a minha corrente é pra trás: por ser a favor do Brasil (o país, não o time de futebol), jamais torcerei por uma equipe que usa o escudo da CBF. Ainda assim esse é um crime de lesa-pátria: o mesmo profissional limitado que privou o mundo de ver Romário pode agora nos privar de Ronaldinho. Se estivesse em 1970, tirava Pelé. É por isso que conclamo: todos juntos vamos, nessa corrente pra trás!

Fiquei triste pelo Ronaldinho, de que todo atleticano aprendeu a gostar. Mas, atleticanamente falando, eu tinha medo de R10 vestir a camisa da CBF e a coisa desandar logo agora, quando sete jogos nos separam do paraíso (um pelo Mineiro, seis pela Libertadores). É muita inhaca naquela sigla, é muita coisa ruim. Se eu fosse o Bernard e o Réver, levava o crucifixo e o espelho, e só ia treinar com uma réstia de alho pendurada no pescoço.

Mas vamos ao que importa: a Seleção do Povo, que se pegasse essa selecinha ia passar por cima igual o filho do Eike Batista em sua McLaren. Amanhã tem! E como as coisas voltaram ao normal nas Minas Gerais, periga haver novo baile. Eu adoro o Campeonato Mineiro. É aquela hora em que as coisas se resolvem na intimidade do lar. O Cruzeiro, campeão da Libertadores e tudo o mais, me lembra aquele sujeito que manda e desmanda nas coisas da firma – mas ao chegar em casa apanha com o rolo de macarrão.

Pai Dinah garante: Ronaldinho não vai se abater – e se bobear terminará aplaudido pelos simpatizantes, como se fosse o Neymar. O que é a selecinha perto da chance que tem de levantar o primeiro caneco com a camisa do Galo? R10 já está naquele estágio de atleticano que, sem ingresso nem pay per view, fica em casa lendo o jogo minuto a minuto pela internet – o que, para o alcoólatra, corresponde à fase do gim, terminal e alucinógena. Quando R10 morrer, terá deixado pronto o seu epitáfio: “Aqui é Galo, é Galo, é Galo, é Galo”.