sábado, 27 de julho de 2013

Obrigado a cada atleticano do mundo - Fred Melo Paiva

"Talvez eu me mude para o Salomão. Talvez vire um andarilho, para pagar a promessa não cumprida do Telê. Talvez eu caminhe até o Marrocos, abrindo o Atlântico como Moisés"



Depois de sorver 800 cervejas no Bar do Salomão e cantar o hino do Galo umas 350 vezes, acordo numa ressaca danada e temo que tudo não tenha passado de um sonho. Ligo para a recepção do hotel: “O senhor pode me confirmar, por gentileza, se o Atlético ganhou?” Sim, o Atlético ganhou. Ganhou. GANHOU! O ATLÉTICO GANHOU!

Me belisco, tomo banho de água fria, chuto o pé da cama com o dedo mindinho, bato a cabeça contra a parede – sim, é tudo verdade: o Atlético é campeão da Libertadores. O título impossível, que tantas vezes e tão injustamente nos escapou, agora é nosso. Daqui pra frente, cada atleticano terá de se reinventar, porque cada um de nós foi forjado na dor e na esperança. Agora não dói mais, e tudo o que a gente esperou, como se Deus sorrisse pra gente, aconteceu de verdade.

Tinha que ser no Mineirão. Tinha que ser naquele endereço! Tinha que ser naquele gol, onde o Cerezo chutou pra fora em 1977. Calhou de eu estar sentado bem no meio do campo, onde em outros tempos ficavam as bandeiras verticais da Galo Elite. Ali, bem naquele pedacinho, eu virei adulto. Ali eu vi um negro alto e forte chorar todas as suas lágrimas quando o Sérgio Araújo empatou o jogo contra o Flamengo na Copa União. Esse negro alto e forte me abraçou com tanta emoção, com tanto afeto e sinceridade, que eu gostaria demais de saber onde ele estava na noite da última quarta-feira. Terá ele sobrevivido desde aquele longínquo 1987?

Foi nesse negro alto e forte que eu pensei quando olhava para o concreto aparente sob os meus pés e sobre a minha cabeça. Eu tinha que ver aquilo me sentando naquele lugar, olhando para o chão e para o teto, porque me faltou coragem para assistir aos pênaltis. E a cada bola que entrava, e a cada bola que não entrava, eu me sentia como o cego da crônica do Roberto Drummond – que ia ao campo mesmo sendo cego e via os gols no grito da Massa.

De repente, fez-se um silêncio. Eu quase pude ouvir o chute, e depois a bola estourando no travessão. O nosso Roberto Baggio, como bem disse o Juca Kfouri. Aquela bola no travessão é o ponto final de tudo – de todas as desgraças da vida, dos sonhos que não realizamos, dos amores que não vivemos. Quando eu tirei os olhos do chão, uma criança à minha frente me olhou nos olhos e disse que a gente ia ganhar. Que coisa mais linda poder ensinar a uma criança que se a gente não desiste, se a gente persiste e acredita, a nossa hora chega.

Quando a Massa estourou junto com aquela bola na trave, eu corri pra abraçar esse menino, como se fosse eu o negro alto e forte que me abraçou em 1987. Obrigado, menino! Obrigado, meu Deus! Obrigado a cada atleticano do mundo! Obrigado aos meus tios que me fizeram ser atleticano! Obrigado, Victor, Leonardo Silva, Jô! Obrigado, Gropen! Obrigado, Kalil! Ontem o seu pai estava lá, eu tenho certeza.

Agora, do alto da minha mais importante ressaca de todos os tempos, me pergunto: o que faremos nós de nossas vidas? Que outro objetivo vamos almejar? Formar um filho? Casar uma filha? Ganhar o primeiro milhão? Ficou tão pequeno... Talvez eu me mude para o Salomão. Talvez vire um andarilho, para pagar a promessa não cumprida do Telê. Talvez eu caminhe até o Marrocos, abrindo o Atlântico como Moisés.

9 comentários:

  1. Q ISSO! LAGRIMAS ESCORREM DE LEVE NO MEU ROSTO Q EMOÇAO NASCER ATLETICANO, OBRIGADO MEU DEUS!

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  2. Que coisa mais linda!!Eu simplesmente quero agradecer suas palavras com as lagrimas de Alegria que ainda protam desses meus olhos que viram esta Gloria tao esperada por toda esta Linda Massa Atleticana.Muito obrigada.....GALO EU TE AMOOOO.!!!!

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  3. Meu Deus isso reflete perfeitamente o sentimento de cada atleticano, lendo isso as lagrimas rolaram, não consegui segurar, é muita emoção ser atleticano, são muitos anos de espera, obrigado meu Deus.

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  4. Talvez você pague a promessa do Telê?? Eu assisti o redação Sportv e você disse que se o Galo fosse campeão, você pagaria. Pelo amor de Deus, pague essa promessa!!! Não quero passar mais um tempo sem ganhar títulos, por causa de promessas não cumpridas!!
    GALOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!

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  5. Que texto lindo cara, maravilhoso, assim como você, sou atleticano, fanático, eu estava lá , no mineirão, fui sozinho, sem meus pais, sem meu irmão, apenas eu. Fiz amizade e assim como você, um senhor e uma senhora, me abraçaram durante os penaltis, ficamos gritando é campeão, galo galo , foi maravilhoso ! Sinto que cada atleticano se emocionará com esse texto, assim como eu, sofredor, porém feliz, fanático, um amante do Clube Atlético Mineiro.

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  6. E emocionante demais ser Atleticano.E eu sou fanática.Tenho paixão louca por este galo.Graças a Deus nascí atleticana e com muita honra.Amo você Fred.Você

    é o cara e não tem defeito.E Atleticano.Assisto seu programa e rio demais.

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  7. Lindo...simplesmente lindo...meu irmão em paixão!!!

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  8. Talvez eu não durma mais...porque preciso ficar acordada pra continuar sentindo essa emoção que me arrepia e que me faz chorar, quando vejo e revejo e revejo aquele gol marcado aos 41' minutos do segundo tempo. Talvez eu tenha que me beliscar e gritar que o que vi, realmente aconteceu. Talvez eu tenha que agradecer...talvez não...eu preciso agradecer a Deus porque colocou em minha vida um time que me faz feliz. E a vitória veio, porque a esperança estava em nossos corações. Talvez? Não, Fred Melo Paiva, os atleticanos é que agradecem por tê-lo como torcedor do Galo. Para sempre, obrigada, também. Amém! (O seu texto é uma poesia).

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  9. Este ano farei quarenta e dois anos. Quando Dadá parou no ar, onze dias antes desse que escreve vir ao mundo, o Atlético ganhava seu título até ontem mais expressivo. O amor ao Galo não nascia ali, pois o batismo de sangue só viria quando as rédeas de meus sentidos tomaram conta de meu entendimento. E foi com Reinaldo, Éder, Cerezo, Luizinho e outros memoráveis jogadores daquele escrete de 1980 que minha sorte se decidiu. Aragão e Wright, e depois tantos outros, tentaram tomar de assalto aquilo que poderia ser nosso – poderia porque o Flamengo era tão grande quanto nós. As fatalidades, que combinavam os apagões de nossos escretes às truculências do futebol apropriado pelos interesses desse capitalismo de pilhagem da CBF, me ensinaram que nem sempre vence o melhor. Por isso, nunca compactuei com aqueles que diziam que amarelávamos na hora decisiva. Aprendi a amar o futebol nos seus vieses e seus avessos. Todavia, não deixa de ser desolador ter que responder àqueles que entendem o futebol apenas pelos algarismos. Entendo-os, pois o futebol é também isso. Mas me desculpem o gosto pela literatura e outros esportes do gênero que também aprendi a praticar.
    Aos apolíneos da vida e do futebol, aí está o que vocês pediam – um grande título. Sempre amei o dionisíaco, na vida e no futebol. Ao contrário dos “famas”, do grande escritor argentino Júlio Cortázar, aprendi as delícias e as dores dos “cronópios”. Por isso, para mim o futebol não se encerra em títulos. E não há prova mais cabal disso que a torcida do Galo, que incomoda tanto pela maneira que resiste ao estereótipo que tanto se lhe quer atribuir, o complexo de vira-latas. Não temos tantos canecos resplandecentes em nossa galeria, mas nossa rapsódia é singular e é nossa – amada por cada atleticano com uma reverência de fato e de direito. Nunca me esquecerei do escrete canarinho de 1982, eternamente indigente do título mas, para mim ao menos, infinitamente mais contundente que o de 1994 e 2002. Como disse, sou mais afeito à modorra dionisíaca. Aprendi com esta seleção de 1982 a amar um algoz como Zico e a ver o futebol e a vida com menos maniqueísmos. Ser atleticano é fazer parte de uma nação e hoje é dia de nosso pileque cívico, para lembrar o velho Nelson Rodrigues. Podemos ainda com os cumprimentos de Nelson Rodrigues, ao se lembrar da nação brasileira em face da conquista de 1958, afirmar que também nós atleticanos começamos a achar que a nossa tristeza é uma piada fracassada. Aliás, sempre soubemos disso.
    Meu respeito a todo o time do Galo nessa Libertadores, ao Cuca e ao Kalil, o qual fez ontem justiça a memória de seu velho pai. Mas continuemos dionisíacos, reverenciando a história também daqueles monumentais confrontos malfadados, pois o baile do time na primeira fase da Libertadores deu licença ao ritual de exortação nas fases do mata-mata. Um viva ao Galo e a todos aqueles que construíram o triunfo de ontem. Mais que um título, temos outra uma bela história a contar. E não é dessa lavra que se faz o futebol?

    Radamés Andrade Vieira.

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