sábado, 10 de agosto de 2013

Valeu, pequeno grande Bernard! - Fred Melo Paiva

"Enquanto o Rio de Janeiro não for anexado por Minas Gerais, abrindo finalmente nosso caminho para o Atlântico, é mais fácil ganhar um Mundial do que um Brasileiro"


Assim como o time do Galo, eu mesmo não me dera conta de que o Campeonato Brasileiro havia começado. Acordei para o certame em andamento na quarta-feira, depois de dormir o sono dos mais justos campeões da América de todos os tempos. Quem me despertou pra realidade foi aquele juiz cuja mãe labuta em antiquíssima profissão.

Não podemos dizer que se tratava de um deficiente visual, visto que contra nós o filho dessa prestadora de serviços enxergou até o que ninguém viu. Também não podemos acusá-lo de ladrão, por falta de provas. Agora, que poderíamos ter chamado o 190 não há dúvida. Disse-me um leitor da coluna: “Saudade dos tempos em que um cara desse saía no camburão”. Eu também. Por isso que o futebol moderno é chato – nem uma pilhinha AAA a gente pode mais arremessar em seus chifres, como se alguém já tivesse morrido disso em alguma parte do mundo.

Mas, enfim, o filho da digníssima senhora me fez enxergar a realidade – ih, começou o Brasileirão... A regra é clara: o Galo joga com 11 e os cariocas com 15. Pode isso, Arnaldo? O que você acha, José Roberto Wright? E você, Carlos Eugênio Simon? No Brasil, como dizia o Kafunga, o errado é que é o certo. Qualquer dia o Carlinhos Cachoeira aparece comentando política na Globonews; o Roger Abdelmassih vai tratar de temas da saúde; e o Edemar Cid Ferreira, dos imbróglios da economia.

Engraçado foi o jogo terminar e os atletas do Botafogo cercarem o juiz, revoltados com o acréscimo de cinco minutos depois de o Jefferson ficar duas horas caído no chão – sem falar das três substituições em cada um dos times. Óleo de peroba ali não pega, tem de ser verniz náutico! Fala sério, mermão: enquanto o Rio de Janeiro não for anexado por Minas Gerais, abrindo finalmente nosso caminho para o Atlântico, é mais fácil ganhar um Mundial do que um Brasileiro.

Ainda bem que o Luan Maluco nos salvou da crise iminente. Porque ninguém aguenta esse jejum: o Atlético está há mais de 15 dias sem ganhar um título de expressão! Chacota nacional! Por falar nisso, está no ar um site relevante para o registro da História: www.desdeoultimotitulodocruzeiro.org. Nos moldes do impostômetro instalado no centro financeiro de São Paulo, ele vai contabilizando a passagem do tempo. Tipo assim: “9 anos, 8 meses, 9 dias, 17 horas, 38 minutos, 55 segundos”. Daqui a pouco vão rolar umas bodas.

No Twitter também surgiu a hashtag #NoUltimoTitulodoCruzeiro. Fiquei até nostálgico: “#NoUltimoTitulodoCruzeiro eu usava calça da Pier”. Um outro sujeito: #NoUltimoTitulodoCruzeiro eu ia para a sexta jovem do Minas no meu Fiat com rodas cruz de malta”. Que tempo bom que não volta nunca mais...

Quem volta logo, eu tenho certeza, é o Bernard. Daqui a pouco tá ele na Ucrânia igual o Tardelli no Catar – o cara nem dormia mais, porque estando do outro lado do mundo tinha de ficar acordado pra ver o seu Galo querido na TV. Dizem que o Bernard era cruzeirense na infância. Coitado... O Pelé é que tinha razão: “Temos de cuidar melhor das nossas crianças”. Foi o que a gente fez com o Bernard. O resultado tava escrito na camisa dele quando fez o gol contra o Atlético do Paraguai: “Uma vez até morrer”. Tem cura, minha gente, tem cura!

Valeu, pequeno grande Bernard! Daqui a 200 anos, você ainda será um herói.

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